sexta-feira, 21 de agosto de 2009

9 - A Verdade.

Ela completou o curto caminho que estava a minha frente, e só pude ver em seus olhos a dor do dia anterior fixos ali ainda.
- Bom dia Ana. - eu simplesmente precisava mudar toda essa situação rídicula que tinha infligido a ela e a seus sentimentos, eu precisava apenas ter o auto-controle sobre meus desejos. - Como vai? - tentei sorrir.
Era como se seus olhos tentassem esconder o grande desapontamento, mais ela foi firme em suas palavras.
- Bom dia Jeremy! Eu estou bem e você como está? - ela fixou seus olhos em mim.
- Estou ótimo Ana, e querendo muito falar com você minha querida.
- É mesmo? Você vai me deixar louca. - seus olhos faíscaram nos meus - Por que faz isso comigo Jeremy Ion? - Sua voz era seca e triste.
- Esta tarde eu lhe prometo minha querida, direi toda a verdade.
- Mais uma vez essa história de verdade? - suas palavras saiam como um gelo afiado, pronto para desferir o golpe em mim.
- Por favor! Você tem que confiar em mim Ana.
- Tudo bem, espero em seu carro no final da aula hoje Jeremy!
Ela saiu em seu andar habitual até sua sala de aula, eu esperei alguns segundos para poder caminhar a minha sala.
Tudo parecia fora do lugar neste dia nublado e abafado, tudo em minha volta parecia estar conspirando a favor da minha conversa com Ana.
O tempo que antes era o meu melhor aliado agora era simplesmente como um piscar de olhos, passava indistinto e quando dei por mim já estava na hora do almoço. Desta vez preferi sentar sozinho e tentar colocar minhas idéias no lugar antes de poder começar a contar exatamente tudo sobre mim e minha família.
O que eu não faria por ela? O que eu queria para ela? Era tudo embaçado e horrivelmente concreto em minha frente, eu sabia o que tinha que fazer e contar a ela apenas me faltava a coragem de colocar na balança a hipótese de que ela poderia me deixar para sempre.
Eu era egoista a ponto de querer que ela ficasse comigo mesmo dizendo sobre minha condição que jamais mudaria, mais aceitaria o fato de que ela não me quizesse e iria embora de Olympia para sempre.
O sinal bateu, o som estridente me fez estremecer na cadeira, o pequeno som que era irritante para mim, agora me soava como um sinal de agouro.
Na aula de biologia estava completamente absorto em pensamentos, lembrando de responder uma ou duas vezes, as questões que o professor me atirava sem precisão. Eu a tinha esperado por toda a minha vida, era a hora da pequena verdade sobre minha família.
Em minha cabeça veios os pequenos flashs de Brian e Melissa me incentivando.
- Vá para sua amada e seja sincero Jeremy, esse é o caminho para ter ela para toda a sua eternidade.
E claro minha irmã não poderia deixar de expressar seus doces sentimentos.
- Jeremy Ion, volte e fale com ela, e por favor não me decepcione eu não tenho um irmão covarde!
Me lembro bem de querer enfiar uma boa maçã na boca daquela pequena tagarela em forma de criança, as vezes Melissa com seu jeito conseguia me tirar do sério a ponto de querer sumir.
Tudo começou a vir a minha mente e realmente já era a hora de poder ao menos mostrá-la tudo o que eu era.
O pequeno sinal tocou, e me prendi a cadeira, me tornei praticamente uma estátua e só sai do pequeno transe quando o professor veio até meu lugar pedir que me retirasse da sala de aula.
Andei vagarosamente tentanto conseguir todo o tempo que podia antes de enfrentar Ana, meus passos eram pesados como se houvessem tijolos que estavam presos a ele, não era bem mais que isso poderia ter exatamente uma tonelada ali era constrangedor ficar nesse estado, sabendo que a frágil na história era ela.
No pequeno estacionamento da escola o chão estava completamente úmido, poderia ter chovido e eu ao menos tinha notado esse pequeno fenômeno da natureza, tão absorto que estava em meus pensamentos. Caminhei lentamente de novo até meu carro e lá parada na porta do carona estava Ana, com a habitual mochila nas costas e seu pequeno fone de ouvido em suas orelhas escutando a pequena música que ela ouvia sem parar, podia ouvir seu lindo coração acelerado palpitando a cada segundo que passava, era como uma linda canção para meus ouvidos aguçados.
Me aproximei do carro, e ela me olhou receosa, tirou seu fone de ouvido.
- O que tanto você quer me falar Jeremy? - a voz gélida ainda estava ali descansando em sua garganta.
- Quero te levar a um lugar onde posso ser quem eu sou e te mostrar o que posso fazer. Entre no carro por favor Ana!
Sem dizer mais nada eu entrei no carro e em seguida ela sentou ao meu lado, meu corpo como sempre ficou frenético com o pequeno espaço que ficava nossos corpos, era completamente enebriante o cheiro de sua pele isso me deixava completamente mais selvagem e me dominava a todo o tempo.
Discretamente abri minha janela para que o perfume de sua pele pálida não me infligisse mais dor alguma, e pisei de leve no acelerador que já começou a disparar para frente até a marca de 110 km/hr. Cortava as ruas da pequena cidade de Olympia sem ao menos olhar para os lados, minha mão estava rigída no volante enquanto ela se mexia e virava para falar comigo.
- Olha a velocidade Jeremy que caramba! Para onde estamos indo?
- É uma surpresa. Quer por favor parar de ser curiosa? - eu sorria sem tirar os olhos do volante.
- Tá. Argh! Não pergunto mais nada, quer dizer só mais uma pergunta.
- E qual seria a pergunta Ana? - olhei preocupado.
- Falta muito para chegarmos?
- Você quer saber demais minha querida, acho que peço apenas que espere uns minutos.
Tentei desconversar todas as tentativas dela de uma conversa para saber onde seria nossa parada, mais é claro ela conseguia ser teimosa feito uma pedra e não desistiu, até eu parar de falar e a deixar no vácuo.
Passamos por uma das praias de Olympia, o cheiro da água salgada me deixava contente, era uma coisa que eu adorava.
O nosso longo destino estava prestes a acabar, e ela só foi perceber pela minha brusca redução de velocidade, paramos até uma grande parte da floresta que dava acesso a minha casa ao final do percurso. Não chegaria com ela tão longe apenas a levaria ao grande rio que cruzava a imensa floresta. Sai do carro, acompanhado por ela e parei em frente ao começo de uma pequena trilha.
- É aqui que vamos agora andar a pé Ana. - eu apenas conseguia sorrir e pensar o quanto ela estaria odiando andar no meio da floresta já que era meio ou completamente desorientada, e não conseguia ficar muito tempo em um lugar sem se perder.
- Floresta? - eu a vi revirar os olhos por cima de meus ombros.
- Sim! E creio eu que você irá adorar o final do percurso. Vamos?
Comecei a caminhar em sua frente, eu sentia o disparar de seu coração pela sua boca, era uma sensação agradável ver que ela ficava completamente anciosa ao meu lado, para dizer que no mínimo era adorável.
A trilha pela clareira era realmente muito difícil para alguém como Ana, o lugar era um terreno esburacado, a grande parte era coberta de um toldo de musgo e arvores, o sol não conseguia penetrar as grandes árvores fazendo com que o lugar tivesse um aspecto sombrio e ao mesmo tempo seguro.
Era difícil de se caminhar, a cada meio minuto era possível sentir Ana escorrer ou mesmo tropeçar, minhas mãos automáticamente seguravam em sua pequena cintura, o que a deixava completamente corada.
Em meia hora, o chão começou a ficar plano, as árvores começaram a desaparecer e de longe já dava ver o rio em que eu esperava conversar e contar tudo a Ana.
- Estamos chegando? - ela já arfava de tão cansada.
- Sim vamos parar no rio logo ali a frente.
Em instantes chegamos ao grande rio, o som da água correndo era realmente tranquilizadora, sua água completamente transparente, o lugar era perfeito para eu poder contar o que era e ao mesmo tempo não deixá-la tão assustada.
Me sentei em uma pedra que estava solta no chão, enquanto Ana olhava boquiaberta para o rio e toda a beleza daquele grande lugar.
- Gostou daqui Ana? - eu a fitava lentamente.
- É um lugar. - a voz dela falhou por um pequeno instante. -, completamente maravilhoso Jeremy, como encontrou ele?
- Esse espaço é onde eu passo a maior parte do tempo para pensar, meditar e também me acalmar, é o meu refúgio quando a casa está muito lotada, - eu sorri pegando uma pedra no chão. - então você está bem com minha presença? Quer me dizer algo? - joguei a pedra longe até cair dentro do rio.
- Sim Jeremy, gostaria muito de fazer uma pergunta a você. - seu coração acelerou frenéticamente.
- Estou aqui o tempo que você quizer meu amor. - soltei um sorriso, que mais pareceu um daqueles sorrisos que modelo faz em catálogo de revista.
- Por que não quiz me beijar? Sente tanto nojo de mim que nem ao menos quer me tocar? - uma lágrima escorria pelo seu rosto.
Trinquei meus dentes com o choque de ver aquela pequena lágrima cair, corri na sua direção e a segurei pelo seu pequeno ombro frágil.
- Eu não fiz isso por que sinto nojo de você ou por que não te amo, - ela me olhava com lágrimas nos olhos - é complicado dizer minha querida e vou tentar lhe explicar tudo de uma vez.
-Explicar o que Jeremy? Que realmente foi tudo um erro? Que era pra eu estar morta naquele pequeno incidente com o caminhão? - ela me fitava. - Fala Jeremy...
Eu não sabia como começar, nem ao menos como explicar a ela, o que realmente eu era e por que não a tocava. Era muito difícil expressar meus sentimentos a ela nessa hora mais eu tentei do jeito mais fácil para que ela entendesse que ela não era a errada e sim a mim.
- Meu amor eu tenho um segredo por trás de tudo, não é por que não te amo ou por que sinto nojo de você é simplesmente por que não quero lhe machucar como já tive vontade. - eu me afastei dela e voltei a me econstar na pedra.
- E qual é o segredo Jeremy Ion? - ela estava em pé e olhando para mim com uma dor profunda, queimava em seu coração e eu queria fazer parar tudo aquilo.
- Ana antes eu preciso te dizer o que realmente significa para mim, será que pode entender isso primeiro? Depois você pode fazer o que quizer. - eu tentava esconder o medo através da minha voz um pouco mais grave.
- Posso Jeremy, e você também vai saber o que penso.
Eu tentava soltar as palavras, mais era com se estivessem se embolando em minha garganta, esperei pelo momento certo.
- Ana, eu sou perigoso para você meu amor, não quero colocar você em risco algum, mais eu já não quero mais ficar longe de você, eu estou me recusando a cada dia que passa ficar longe dos seus olhos, do seu doce sorriso e da sua pele. - eu tremi com as verdades em minhas palavras. - Eu sou seu minha querida, mais não quero te machucar dá para você entender isso? - olhei aflito para ela.
- Jeremy você está tão arrependido, devia ter me deixado morrer. Mais se você que gosta tanto de mim, para com essa baboseira de ficar longe, por que eu não suporto mais ficar longe dos seus olhos. - ela tocou em meu rosto e sentiu um choque ao me tocar. - Você é tão gelado Jeremy o que você tem? - ela me olhava apavorada.
- Eu sou assim Ana, mais o que eu te disse é a coisa mais sincera que eu disse em toda minha vida.
- Você sabe também meu querido, que eu somente desejo ficar perto de você, de realmente demosntrar tudo o que eu sinto por você que está guardado em meu coração para te dar.
O tempo parecia estar realmente mudando o cinza escuro que deixava o céu completamente carregado ia perdendo sua força e começou aos poucos ser tingido por um cinza claro quase transparente.
- Ana o que você já notou de diferente em mim? - eu a olhava curioso.
- Do que você está falando Jeremy? - ela fitava sem entender qualquer sentido em minha frase.
Aos poucos o cenho franzido de Ana mudou para um ár de que havia entendido toda a pergunta e o que isso englobava.
Ela ficou sem se mover, até parecia a mim em certas vezes, mais eu ouvia seu coração acelerar com velocidade, seus lábios estavam ficando branco e ela parecia meio enjoada.
- Ana você está bem?
- Espere um minuto por favor estou tentando digerir tudo Jeremy.
Eu apenas a fitava nervoso, meus dentes trincaram de raiva por estar fazendo isso com ela, mais eu queria que ela realmente soubesse da verdade e isso implicava em lhe contar tudo.
Finalmente ela acabou recobrando os sentidos que lhe tinham fugido e então a cor em sua boca voltou e ela voltou a se mexer.
- Você é completamente rápido, é gelado, consegue ler a mente das pessoas e é extremamente lindo. Mais o que isso tem a ver com seu segredo.
- Ana você nunca reparou que eu possa ser algum ser de outro mundo ou qualquer coisa do tipo?
- Rá Rá Rá! Já tive algumas idéias sobre o que você poderia esconder de mim.
- Então me diga o que você já achou que eu seria? - sorri olhando curioso para ela.
- São coisas idiotas Jeremy, não quero que me acha uma completa idiota. - ela riu.
- Eu prefiro ouvir mesmo assim.
- Está bem! Foi você quem pediu. - ela sorria corada - Eu já pensei em você ser um E.T ou um cara com poderes que salva o mundo por ae. - ela ria da própria resposta.
- Acho que um E.T eu teria que ser um pouco mais verde amor, e um herói?
Não salvei a vida de ninguém para ser um.
- Ah entendo! Eu sou um ninguém não é mesmo? Você me salvou mais eu não significo nada para você. - ela olhou frustrada.
Ela olhou fixamente para mim e em seguida começou a voltar para a trilha de onde viemos minutos antes.
- Ana por favor volte! Não foi isso que eu quiz dizer, você eu salvaria sempre e vou proteger você para sempre, por que é você quem faz do meu mundo um lugar melhor e é por você que eu continuo aqui com minha vida. Você é garota que fez o monstro se apaixonar.
- Você não é um monstro! - ela retrucou e voltou e parou no meu campo de visão.
- Sim eu sou e você irá me temer assim que eu disser o que eu realmente sou minha querida.
- Não diga nada daquilo que você não sabe Jeremy, você não sabe o que eu penso ou deixo de pensar, então por favor pare de tirar conclusões do que jamais vai saber. - ela me olhava frustrada.
-Eu sou... - minha voz novamente falhou e eu me acovardei.
- Você é o que Jeremy? - ela estava completamente curiosa.
- Não fez sua lição de casa meu amor?
- Não quiz me meter em sua vida, não tinha esse direito, queria que seu amor por mim fosse mais forte do que qualquer coisa, para você poder me contar por me amar. - ela estava triste novamente.
- Mais e seu eu te perder meu amor? Eu não suportaria te ver me olhar como um monstro ou um assassino que não tem sentimentos. - eu estava ficando enlouquecido de desespero.
- Por favor Jeremy! Está na hora de você me mostrar quem é de verdade.
- Eu vou te contar e espero que realmente nada mude depois disso.
- Jamais irá mudar, eu sempre vou querer você perto de mim.
- Sim Ana depois dessa minha revelação tudo pode mudar para mim e para você. - eu tentava escapar da verdade a qualquer preço. Mais o que todos diriam de mim se eu fugisse mais uma vez como covarde? Não eu não podia sair daqui novamente feito um covarde.
- Não seja estúpido Jeremy, você as vezes me subestima demais sabia? - ela me encarava.
- Por favor eu quero que me entenda, depois disso ok?
- Sim. Eu prometo te entender mais agora fale Jeremy.
O ár parecia ter ficado mais quente, ou era possível que eu congelasse ainda mais antes de poder contar a verdade?
Isso eu não poderia saber, eu jamais iria saber o que ela pensava se eu não contasse, inspirei o ár e o soltei lentamente e me coloquei a falar rápido e prático:
- Ana meu amor eu não sei se você irá acreditar mais, eu sou um vampiro Ana! - as palavras foram como eu imaginei, um verdadeiro tapa na cara de Ana, o choque da palavra vampiro tingiu seu rosto de medo.
O meu desespero estaria para começar neste exato instante em que ela respirou...

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