14 - SEDE
Eu a guie lentamente pela porta, e sorri com a expressão de perplexidade em seu rosto, o que era de se esperar. Entrei e tirei o meu casaco e o joguei por cima de um pequeno sofá que ficava entre a porta e a sala comumente branca. Coloquei meus dedos gelados em seu ombro e deslizei meu dedo pelo seu pequeno casado e o atirei no sofá.
- Em que está pensando?
- Não sei bem o que dizer, mais essa casa é tão clara e grande...
- Pensou em algo diferente disso?
- Imaginei mais negra e escura.
-Minha Ana, eu ainda não sou uma coruja. Tem alguma tese sobre isso?
- Você vai rir de mim e não tem graça.
- Eu prometo que não vou. – tentei empregar toda minha sinceridade nas palavras para poder saber um pouco sobre o que se passava em sua cabeça.
- Bom Você deve virar um morcego a noite não vira?
Esbocei um pequeno sorriso mais contive toda a vontade de rir e fiquei paralisado de choque, esperando que sua tese fosse mais elaborada o de que sua pergunta fosse apenas algo para se descontrair, mais em seus olhos havia uma simples sinceridade e apenas sorri de canto.
- Não Ana, isso é apenas mito.
- Então minha concepção de o que é um vampiro está errada?
- Sim.
- Os cinemas?
- Mentira. Exceto ao fato de beber sangue.
- Mais como você consegue andar a luz do dia?
- Jeremy Íon – a voz de minha irmã ecoou pela casa. – pode fazer o imenso favor de trazer nossa convidada para conhecermos?
- Vamos deixar essa conversa para um outro dia e uma outra hora.
Coloquei o braço em volta do seu ombro despreocupadamente e a guiei pela grande sala branca, seus pequenos olhos negros vasculharam a grande sala e todas as outras pessoas que a esperavam. Minha sala era incomumente estranha, era completamente arejada e continha um tom pêssego enjoativo e suave, era a cor favorita de minha mãe. Na Sala havia apenas um jogo de sofás na cor branco e uma grande televisão. O mais estranho do lugar eram as três pessoas que aguardavam ansiosos no pequeno espaço do sofá.
Brian como sempre não tirava os olhos da televisão como se sua vida dependesse daquilo, seu olhar era tranqüilo e reflexivo mais um tanto apreensivo, Mícara já era um pouco mais hospitaleira e lançava um grande sorriso em nossa direção.
- Estes são Brian, Mícara e Melissa apontei cada um com a cabeça.
- Olá Ana! Eu sou Brian praticamente o irmão do meio de Jeremy.
- Oi Muito prazer em te conhecer Brian. – ela sorria entusiasmada.
- Como vai Ana? Eu sou Mícara é muito bom te conhecer.
- Eu estou muito bem obrigada pela recepção.
- Você é realmente muito interessante.
O olhar de minha irmã era um pouco extravagante mais ela já começava a tocar Ana como se fosse uma de nossa familia sem ao menos recuar com a proximidade.
- Eu sou Melissa, a irmã mais nova de Jeremy, é claro que ele falou de mim para você não é?
- Bom na realidade ele me comentou muito pouco sobre vocês.
- Melissa nem comece por favor, você fica um saco. – bufei soltando as palavras em um jato sem vontade.
- Nossa irmão, que consideração agradável você tem comigo não é?
- Não fique brava com ele Melissa, eu também não tive tempo de perguntar sobre tudo.
- Você é gentil Ana obrigada! E depois eu e o senhor vamos conversar senhor Íon eu-sou-um-chato.
Eu apenas assenti sorrindo e puxando Ana para o longo dossel de escadas que nos esperavam.
A escada era completamente torcida em um caracol assustador e isso a intimidou ainda mais do que meus irmãos.
- Está com medo de escadas mais de meus irmãos você não sente?
- Seus irmãos não me fazem cair ou fazem?
Sorri para a sua piada e a incentivei a subir primeiro e subi logo atrás, era mais fácil desfazer a mascara de infelicidade quando ela não me olhava nos olhos. A dor subia com uma tal fúria que me dominava e me deixou passar despercebido suas palavras sobre minha casa. Sai de meus pensamentos ao pé da escada com uma pergunta dela.
- O que seria isso?
- Ah isso, é a porta do meu quarto.
Ela apontava para a ultima porta do corredor onde nele havia um imenso pôster com os dizeres “ Quando o tempo cura até a dor do amor é sinal de que você pode superar qualquer dor em vida”.
Caminhamos lentamente até a porta de meu quarto, ela alisou lentamente o grande pôster.
Eu abri a porta e parei na entrada.
- Preparada para conhecer o meu reino? – eu sorria sarcasticamente.
- Sempre estou pronta para conhecer ainda mais você.
Entrei pela porta do meu quarto que como sempre estava do mesmo modo, a pequena cama escura ao canto junto a uma prateleira embutida que continha um arsenal de cd’s e livros.
A grande janela que dava para uma pequena varanda era totalmente feita de vidro. Ela se esgueirou para dentro do quarto e olhou maravilhada tudo o que havia dentro dele. O brilho de seus olhos eram tão lindos que conseguiam desfocar minha visão e me fazer imaginar apenas ela em toda a minha existência.
- Seu quarto é tão lindo.
- Obrigado. Um dia verei seu quarto também?
- Quando quiser. – ela sorriu.
- Pode ser hoje a noite?
- Na realidade ainda precisaria te apresentar ao meu pai, mais acho que posso deixar a janela do meu quarto aberta assim sem querer sabe... – ela sorria de canto sem me encarar.
- Tem certeza disso?
- Sim eu tenho.
- Então estarei lá assim que seu pai dormir. – eu sorri apenas para deixa o ambiente mais confortável. Me sentei na cama e fiquei a admirar o meu pequeno mundo em seus olhos escuros, ela me olhou e sentou confortavelmente ao meu lado.
Suas mãos tocaram meu rosto gélido, sua mão quente e reconfortante era como um balsamo para mim. Fixei meus olhos nos delas e apenas consegui sorrir sem corar como suas bochechas faziam.
- Me diga o que está pensando agora. – eu pedi com certa urgência na voz.
- Estou pensando que você tem tanto a me mostrar e eu tenho apenas uma vida sem graça e medíocre perto da sua e não tenho nada para te mostrar.
- Se enganou e muito nisso Ana, tudo o que você faz me interessa até mesmo você abrir seus olhos de manhã para mim já é uma conquista.
Foi rápido e apenas senti seus braços quentes me apertarem com leveza e queimarem minha pele um pouco. Era reconfortante, tudo novo para mim até aquela certa ardência em meu pescoço que dominava e amortecia até a ponta de meus dedos.
O cheiro dela era doce e tinha um toque amargo, era tão poderoso sobre mim que senti minhas pequenas presas dominarem minha boca e se arreganharem para fora, meus olhos ardiam com a luz do sol, era impressionamente dolorido olhar para o sol.
Tentei fazer minha mente continuar a ser o humano e não a ser o animal que eu era enquanto caçava minhas presas, mais ela estava ali tão inofensiva pelos meus encantos e jamais conseguiria ao menos sentir a dor.
Rocei lentamente meus dentes em seu pescoço, a boca se abrindo lentamente até se fechar em uma lua, estava prestes a fechar minha boca em seu pescoço, enquanto ela ofegava e então disparei para a janela.
- Vá embora por favor!
- O que aconteceu Jeremy?
- Por favor vá embora, nos falamos amanhã eu te peço Ana.
Ela se levantou e foi até a porta com a mão na maçaneta ela se virou para mim.
- Te vejo a noite?
- Provavelmente não. Até amanhã.
- Ela fechou a porta silenciosamente atrás de mim.
- Brian pode levar Ana para casa por mim, por favor?
O som veio da sala de jantar abafado pela distancia.
- É claro que sim. Mais o que houve?
- Depois falaremos disso leve-a.
Ouvi o som do carro ao longe passar pela entrada enlameada de minha casa. O que estava acontecendo comigo? O que era isso que estava acontecendo?
Tudo isso era novo para mim, eu jamais pensei em beber sangue humano e nem ter essa total dependência por ele, sempre havia vivido de sangue de animais, mais a aproximação do cheiro de Ana tratou de expulsar todo meu auto-controle e me tornar no mesmo predador que havia me tornado.
Eu tinha apenas uma noção de que éramos atraídos por sangue de humanos mais jamais pude pensar que era uma atração que beirava a dependência um vicio que eu jamais poderia controlar, “você sempre vai correr o risco de matá-la” afugentei a idéia de meus pensamentos e tentei analisar o todo.
Era inútil pensar na questão em si, sabendo que uma hora ou outra eu poderia machucar a pessoa que fazia meu mundo girar, eu não iria permitir uma coisa dessas.
O Tempo foi passando e só pude perceber que Brian estava em meu quarto quando senti seus pensamentos a vista de minha cabeça.
- Sabe que tenho razão. – eu bufei enquanto podia ouvir cada palavra hesitante em seus pensamentos.
- Quer ao menos tentar me explicar o que aconteceu?
- Eu quase a matei Brian, faltou pouco me entende quase cravei meus dentes e meu veneno na Ana, eu não vou me perdoar nunca por ter feito isso a ela.
- Eu entendo mais isso é completamente normal. – ele deu de ombros e sentou na minha cama.
Eu me encostei na grande janela com o pé me apoiando no vidro, respirei fundo lentamente e passei a mão pelo meus cabelos negros, era extremamente desconfortável falar com brian sobre coisas que eu jamais conhecia. Mais isso era algo necessário a saber, e portanto esperei atento por suas palavras e tudo saiu em um jorro tão rápido que se eu não tivesse uma boa audição e não fosse um vampiro jamais conseguiria prestar atenção ou entende o que ele realmente queria dizer para mim.
- Jeremy o que aconteceu com você é o que acontece com qualquer vampiro. Todos os vampiros nascem para serem os predadores dos humanos e não de animais.
- O que você quer dizer com isso?
- Quero dizer que seu pai arrumou um novo jeito de se alimentar que são os animais, mais que é de nossa natureza querermos o sangue humano.
- Está querendo me dizer que vou sempre desejar a morte de Ana? – Meu rosto se mortificou em uma figura estranha, me virei e olhei para a floresta através da pequena janela de vidro e pude ver meu rosto completamente desfigurado, conseguia ver toda a minha amargura e meu ressentimento em meus traços.
Eu não podia acreditar que eu seria governado por um instinto assassino e predador, cada vez que ela vinha em meus pensamentos eu me sentia ainda mais horrendo e pavoroso.
As palavras de Brian ao invés de me confortarem me deixavam ainda mais angustiado, era como se uma nova vida estivesse se abrindo a minha frente e eu nem ao menos pudesse controlar para qual vida eu ficaria.
Realmente eu não teria escolhas ou eu poderia controlar o que quer que fosse que estivesse nascendo dentro de mim, meus pensamentos voaram diretamente para Ana, mais não podia deixar mais que isso me afetasse.
- O que posso fazer para mudar isso?
- Controle meu amigo, terá de se esforçar a cada dia perto dela.
- Era o que eu pensei.
Deixei meu corpo retesado, deixando ele cair impassível e duro na poltrona do quarto.
As horas passavam sem piedade e a tarde já estava chegando ao seu fim, o crepúsculo, o começo das horas que mais odiava em vida.
Meu século de vida fora apenas baseado em ficar a noite toda dentro de casa estudando e me fortificando mentalmente para poder usar meu dom com cuidado, nada me fazia mais depressivo do que olhar mais um dia chegando ao fim e saber que teria um outro dia igual ao outro ao meu horizonte. Mais depois dela...
Expulsei da minha mente qualquer coisa que fizesse me lembrar dela, mais a vontade de poder estar ao seu lado era bem maior, decidi relutante de que iria até a casa dela e ficaria olhando da sua janela.
O sol já estava em seu ultimo suspiro de vida, os primeiros minutos da noite vieram mais tranqüilizadoras e com uma chuva fina e nevoenta, decidi ir para casa dela as onze horário que eu sabia que ela já estaria em sua cama dormindo.
Mudei minhas roupas para umas mais leves e impermeáveis por causa da chuva leve, disparei por entre as arvores da floresta apreensivo mais com um desespero se renovando em meu peito era ruim demais ficar qualquer minuto longe dela.
A viagem para a casa de Ana foi completamente silenciosa, apesar da chuva que caiam em meu cabelo e desmanchavam em meu rosto branco e pálido. As cores difusas passavam despercebidas ao meu olhar, eu sabia de cada cor que não via ao passar rápido demais desde o verde claro e ofuscante de um vaga-lume até o negro do grande céu sem estrelas.
Estaquei meus pés de leve no gramado onde terminava a imensa floresta, deixei que meus ouvidos dominassem meus sentidos. Pude ouvir com clareza todos os detalhes da casa, cada som distinto vindo de lá.
O barulho de uma torneira aberta no segundo andar, o arfar de molas de um sofá torto e velho, o som ruim de um jogo de beisebol vindo da teve, e no andar de cima estava o barulho que eu tanto queria ouvir.
Passo leves e atrapalhados surravam o soalho do chão emadeirado, em seguida a luz do quarto que incidia para o lado da frente da casa acendeu. Esperei atentamente até que a luz se apagasse e a respiração ficar completamente profunda e difusa.
Alguns minutos depois, senti seu coração acelerar, mais sua respiração continuar no pequeno ritmo; O som de sua voz invadiu meus ouvidos e meu cérebro como uma doce canção “Jeremy” era o que sua voz insistia em chamar.
Avancei agilmente até a arvore em frente sua janela, disparei em hiatos de segundos para a janela e a abri lentamente, e entrei para dentro do pequeno quarto.
O Quarto era todo pequeno e aconchegante, as paredes eram pintadas de um lilás claro e perfeito, havia uma pequena escrivaninha que aninhava o computador e seu aparelho de som com alguns cd’s. A cama era branca e o pequeno guarda roupa ficava quase ao lado da janela.
E aninhada em baixo de um edredom na cor azul estava ela sorrindo para o nada. Seu sorriso era inebriante e vicioso demais.
Eu poderia passar minha eternidade, a olhar a única pessoa que era o meu mundo. O mundo me tinha dado tudo o que mais precisava e ao mesmo tempo o tirava de mim com total poder que nem mesmo meus dons e minha condição conseguiam mudar.
Me dirigi lentamente até seu rosto e me agachei tocando com a ponta dos dedos seu rosto claro e lindo, meu toque permaneceu tempo o bastante para a fazer sentir frio.
Deslizei lentamente até a janela e disparei por ela, parando pelo asfalto e me escondendo por entre as pequenas arvores próximas a estrada.
Observei enquanto a pequena janela se enchia de luz e o pequeno rosto aparecendo olhando para a noite escura.
O seu doce rosto ficou grudado em minha mente enquanto voltava a minha casa, tudo ficou mais vivo e brilhante, até a lua com a qual nem o aparecimento eu havia percebido estava mais brilhante esta noite.
Eu não podia deixar de pensar e amar ela, eu seria egoísta a ponto de deixar ela em perigo, ou deixaria ela viver sua vida feliz e normal?
Tudo isso confundia ainda mais minha mente complexa que quase nunca ficava perdida
Mais sim eu seria egoísta de querer ela somente para mim.